Há algum tempo, no “Fantástico”, uma neurolinguista explicou de modo fascinante por que o “não” tende a ser ineficaz com crianças pequenas.

A mãe diz: “Não chegue perto da janela!”, e o cérebro infantil projeta, muito mais do que a proibição, a ideia proibida. “Chegue perto da janela”.

O mesmo acontece, dizia a neurolinguista, com todos nós. Se alguém me diz: “Não pense num elefante amarelo”, eu primeiro penso num elefante amarelo, e depois me convenço de que não devo pensar no que pensei.

Conclui a neurolinguista que a mãe, em vez de dizer para a criança “não chegue perto da janela”, deve dizer: “venha para o sofá”. A ordem positiva é mais fácil de obedecer do que a ordem negativa.

Faz todo o sentido, desde que não se tome todo o raciocínio ao pé da letra.

Vejo que uma coisa funciona muito com meus filhos pequenos: nunca decretar o encerramento de uma atividade sem anunciar antes o que virá em seguida. Não digo “vamos desligar a televisão”, ou “vamos sair da piscina”, sem dizer que “daqui a pouco vamos almoçar” ou “quando acabar o filme vamos ouvir uma historinha”.

A velha metáfora da cenoura e do chicote só faz sentido, aliás, porque a cenoura está na frente do burrico, projeta-o para o futuro.

Por outro lado, há algumas coisas questionáveis no raciocínio da neurolinguista. Uma coisa é dizer “não pense num elefante amarelo”. Estamos nós dois, o interlocutor e eu, sentados num sofá, e o que está em jogo são as imagens mentais que um pode ter e o outro quer proibir.

Outra coisa é a criança que está se aproximando de uma janela aberta. O “Não chegue perto da janela” não exige da criança nenhuma projeção mental “positiva”. Ela já estava fazendo, já tinha confusamente imaginado e desejado fazer, aquilo que agora proibimos. Ou seja, a instância “positiva” que é evocada na frase “negativa” (“não pense no elefante amarelo”) fugiu do plano puramente mental, e está em pleno funcionamento. Absolutamente normal, nesse caso, dizer “não!”, e certamente há algo de importante no processo educativo de qualquer pessoa no fato de ouvir, simplesmente, a palavra “não”.

Claro que funciona mais evitar seu uso constante, e mostrar, por exemplo, uma barra de chocolate para a criança, fazendo-a desviar-se do rumo da janela. Mas uma educação predominantemente “positiva”, isto é, sem o interdito, é impossível.

É como se quiséssemos evitar o complexo de Édipo mostrando ao menino fotos de suas coleguinhas de pré-primário...

Mas volto depois ao assunto.