Dizer “NÃO!” faz parte da experiência educacional de todo pai, de toda mãe. Considero difícil –e mesmo falso—evitar a todo custo o uso da palavra (ver post abaixo).
Acho, em todo caso, que há tipos diferentes de “não” na mentalidade dos pais que pronunciam a palavra. Surgem daí péssimos desentendimentos.
Há, por exemplo, o “não” que gritamos, como uma pura interjeição, quando a criança inventa de tocar numa panela de água fervendo.
Há também o “não”, menos forte, que pronunciamos quando a criança põe o dedo no nariz.
Há ainda o “não” que a criança sabe, no fundo, ser um sim.
Imagine-se a mãe que tem de sair de casa: pode estar apressada porque o banco vai fechar, porque marcou de tomar um café com uma amiga, ou porque tem uma hora no dentista.
Em qualquer dessas situações, ela tem de sair de casa. O filho reclama, faz birra.
A mãe sente culpa. Sabe, secretamente, que seus compromissos não são tão importantes assim.
Diz então para o filho: “Não!” Vou sair, não ficarei com você. A criaça intui perfeitamente que são frágeis os motivos da mãe.
É que o seu “Não!” está carregado de culpa. A mãe sabe perfeitamente que poderia não sair de casa, cancelar a reunião, cancelar a conversa com as amigas.
Tem o direito, claro, de sair de casa, fazer reuniões, conversar com as amigas.
Confronta-se, todavia, com a criança—cujo único objetivo na vida é negar quaisquer direitos da mãe que tem.
Tudo bem: a mãe não se sente confortável quando diz seu “Não” numa situação próxima da chantagem sentimental.
O problema é que existem situações absolutamente “não-sentimentais” em que a palavra da mãe entra em crise.
O menino quer enfiar a cabeça na privada. A mãe diz: “não faça isso!” Mas o menino já se acostumou: o grito da mãe não deve ser levado a sério. A mãe pronunciou-o mil vezes, com o mesmo tom de voz. Saiu para tomar um café, o menino queria ir junto. Ouve-se uma desculpa esfarrapada: “não vai dar, daqui a pouco estou de volta”. O menino insiste. A mãe cede, cancela o compromisso, fica em casa com o filho.
Que valor tem o “Não” de uma pessoa tão culpada, tão prestes a ceder? Desencadeou-se, na verdade, o mecanismo da autoridade culpada, que tanto atrapalha a educação contemporânea.
Escrito por Marcelo Coelho às 01h29
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